No Brasil, quem está economizando para os dias ruins deve começar a poupar para os dias piores. Bolsonaro herdou de Michel Temer um teto de gastos e uma taxa de juros de 6,5%. O teto foi para os ares. E o Banco Central acaba de elevar os juros de 6,25% ao ano para 7,75%.
O aumento de 1,5 ponto percentual foi o maior desde dezembro de 2002. O BC sinalizou que haverá aumento igual em dezembro.
Os juros fecharão o ano em
9,25%, numa escalada que elevará a taxa para os dois dígitos no início do ano
eleitoral de 2022. Isso tem implicações políticas. Dificulta o plano de
Bolsonaro de se reeleger.
Sem a ajuda de Paulo Guedes, que trocou a função de ministro da Economia
pela de tesoureiro do comitê reeleitoral de Bolsonaro, Roberto Campos Neto, o
presidente do Banco Central, passou a carregar sozinho o piano do controle da
carestia. Às voltas com uma inflação que roda acima dos 10 pontos no acumulado
de 12 meses, o BC precisa aproximar esse índice da meta anual de 3,75%. Quanto
mais eficiente for a política de contração monetária maior será o risco de recessão
em 2022.
O Banco Central parece propenso a levar a sério aquilo que Paulo Guedes
chamou de "conversinha" ao desdenhar das estimativas do mercado sobre
o alto custo da balbúrdia fiscal. O economista Mário Henrique Simonsen, que
morreu em 1997, dizia que, em teoria econômica, o que não é óbvio é quase
sempre besteira. Aluno de Simonsen, Guedes deve ter faltado a essa aula.
Como não há popularidade sem prosperidade, Bolsonaro terá de aperfeiçoar
sua mágica política para obter a reeleição. Com câmbio nas alturas, inflação e
juros em alta, além do desemprego a pino, já não basta ao presidente tirar
coelhos da cartola. Precisará tirar cartolas de dentro do coelho.
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