Depois de retirar da sala o bode do distritão, a Câmara aprovou em primeiro turno um elefante: a volta das coligações proporcionais. Para entender o tamanho do retrocesso é preciso atrasar o relógio até 2017. Naquele ano, o Congresso aprovou uma reforma eleitoral com duas boas novidades: o fim das coligações partidárias e a cláusula de barreira —ou de desempenho—, que fixou um patamar mínimo de votos para os partidos conquistarem poltronas no Parlamento.
Sem coligações, cada legenda
teria de caminhar com suas próprias pernas. E aquelas que não atingissem o
patamar mínimo de votos perderiam o acesso às verbas públicas do fundo
partidário. Aplicadas em âmbito municipal nas eleições de vereador que
aconteceram em 2020, a reforma de 2017 começou a dar resultados. Dos 33
partidos existentes no Brasil, apenas 18 obtiveram mais de 2% dos votos totais.
Esse mesmo patamar de votos valerá para as eleições gerais de 2022. Estima-se que algo como metade dos partidos não conseguirá cumprir a cláusula de desempenho. Estão em apuros legendas nanicas de aluguel e partidos ideológicos como PC do B e PSOL. Voltando as coligações, legendas juradas de morte poderão fingir que estão cheias de vida abraçadas a partidos maiores.
Se
prevalecer o retrocesso, partidos sem voto continuarão respirando por
aparelhos, plugados nos respiradores do déficit público. E os caciques que
controlam legendas de balcão permanecerão em cena, negociando a troca de apoio
por verbas orçamentárias e cargos na máquina pública, de preferência nas
proximidades dos cofres.
Por
sorte, o Senado parece disposto a barrar o despautério, mantendo as regras
fixadas de 2017. Nenhum outro país do mundo oferece aos políticos e aos
eleitores tantas opções partidárias como as que existem no Brasil.
Basta
o sujeito decidir se é meia esquerda, um quarto de esquerda, direita
responsável ou direita Bolsonaro e há um partido à disposição. É preciso
atenuar a farra, mantendo as regras que levam ao enxugamento do número de
partidos. Eles que se fundam. Ou desapareçam.
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