Das centenas de variantes do coronavírus que circulam atualmente pelo mundo, três preocupam os cientistas. Entre elas, a do Amazonas.
Vírus são mestres na arte de mudar. Mas um vírus só
evolui se puder se multiplicar. O que em uma pandemia acontece toda hora, em
todo lugar e em grandes proporções.
Nessa semana, a Organização Mundial da Saúde reuniu
virtualmente pesquisadores de 124 países, incluindo o Brasil, para falar das
pesquisas sobre as variantes. Segundo a organização, “altos níveis de
transmissão significam que nós devemos esperar o surgimento de mais variantes”.
Desde que a primeira versão do Sars-Cov-2 apareceu na
China, os cientistas já listaram cerca de 800 variantes em todo o mundo. Mas
três ganharam atenção especial: as que foram identificadas na África do Sul, no
Reino Unido e, nesta semana, no Brasil, no Amazonas.
“Atualmente, as linhagens estão sendo classificadas em
linhagens que as pessoas têm que tomar mais cuidado. Então, essa entrou no rol
desse grupo menor de linhagem das quais os cientistas acham que deve ter uma
preocupação especial”, explica Ester Sabino, pesquisadora do Instituto de
Medicina Tropical/ FMUSP.
Segundo a nota técnica da Fiocruz do Amazonas, a
evolução partiu de uma linhagem que circulava no estado desde abril do ano
passado. Mas uma rápida taxa de mutação foi detectada entre dezembro de 2020 e
janeiro de 2021.
A preocupação dos cientistas é que a variante do
Amazonas tem mutações parecidas com as encontradas nas outras duas, justamente
nas espículas, ou spikes,
a "chave" que o vírus usa para entrar nas células.
O coordenador dos pesquisadores que monitoram a
evolução do Sars-Cov-2 diz que ainda é cedo para dizer que a linhagem
brasileira também é mais contagiosa, mas explica que esse tipo de variante
tende a prevalecer.
“O sentido de toda evolução, de qualquer espécie, é que
a espécie tenha mais habilidade de passar os seus genes adiante. Para o vírus,
isso vai estar representado justamente na transmissibilidade. Quanto mais
transmissível ele for, mais esses genes que ele tem vão se distribuir. Então,
está dentro daquilo que Darwin nos ensinou”, explica Fernando Spilki,
virologista e professor da Universidade Feevale/ RS.
Os cientistas lembram que as mutações dos vírus são
globais. A linhagem do Amazonas poderia ter surgido em qualquer lugar do mundo.
No entanto, variantes têm mais chance de aparecer nos lugares com mais casos da
doença.
A matemática é simples: o vírus se espalha fazendo
cópias dele mesmo – que, às vezes, não saem exatamente iguais ao original. É
assim que acontece a mutação. Então, quanto mais pessoas o coronavírus consegue
infectar, mais chances terá de evoluir.
Os pesquisadores dizem que a vacina é urgente para
barrar esse processo, mas lembram que a transmissão de todas as variantes do
coronavírus é igual, e as medidas de prevenção devem ser também.
“Quando você freia a disseminação do vírus, você também
freia a evolução do vírus. E a gente faz isso como? Com medidas de
distanciamento social, com lavagem das mãos e a utilização das máscaras. Com
essas medidas, a gente consegue impedir tanto a infecção pelo vírus original
quanto pela nova variante”, explica o pesquisador da Fiocruz Amazônia Felipe
Naveca. (G1)
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