Um acerto, uma vez acertado, dificilmente pode ser melhorado. Mas Jair Bolsonaro demonstra, a cada nova declaração sobre a guerra da vacina, que um erro sempre pode ser piorado.
O presidente fala sobre a decisão de vetar a compra da vacina do
laboratório chinês Sinovac, testada no Brasil pelo Instituto Butantan, como se
fosse o portador de uma lógica implacável. O problema é que a lógica do
presidente é besteirol em estado bruto.
Num instante, Bolsonaro diz que não considera razoável investir numa vacina que ainda não teve a eficácia atestada. Esquece que já destinou —acertadamente, diga-se— R$ 2,4 bilhões para vacinas que também estão em fase de testes. Noutra hora, afirma que não autorizará a compra da vacina a ser fabricada no Butantan nem mesmo se ela for certificada pela Anvisa, a agência de vigilância do seu governo.
Bolsonaro afirma não acreditar que a vacina do laboratório Sinovac transmita segurança para a população. E declara ter certeza de que outras vacinas em fase de estudos serão comprovadas cientificamente. Ao expor uma crença e uma certeza sobre vacinas que não ultrapassaram todas as fases de teste, Bolsonaro se revela um presidente sem comprovação científica, que pede aos brasileiros que confiem numa aliança invisível que seu governo mantém com o plano celestial.
Prisioneiro de uma lógica bem particular, Bolsonaro precisa rezar para
que os testes do Butantan terminem mal. Se a vacina do laboratório Sinovac se
revelar eficaz, haverá uma corrida pelo imunizante chinês. Nessa hora, o
presidente talvez tenha que fazer por pressão o que deixa de fazer por opção.
Ao falar sobre a importância de que as vacinas sejam certificadas pela
Anvisa, Bolsonaro disse que não se pode "brincar" com vidas humanas
—"muito menos fazer política." Nesse ponto, o presidente tem toda
razão. O problema é que Bolsonaro brinca tanto de 2022 no meio da pandemia que
fica muito parecido com uma espécie de São Jorge às avessas, que abandonou o
plano de salvar a donzela para se casar com o dragão.
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