De passagem pelo Brasil, o corruptor confesso Joesley Batista
falou à revista Época. A tese da extorsão é
cansativa e ofensiva. Ela cansa porque já foi usada à exaustão pelas
empreiteiras pilhadas na Lava Jato. Ofende porque supõe que a plateia é feita
de imbecis.
Na definição do dono da JBS, “Temer é o chefe de uma organização
criminosa” que inclui Eduardo Cunha, Geddel Vieira Lima, Henrique Eduardo
Alves, Eliseu Padilha e Moreira Franco. “Essa turma é muita perigosa. Não pode
brigar com eles. Nunca tive coragem de brigar com eles.” Por quê? “Para não
armarem alguma coisa contra mim.” Há, hã… O problema dessa formulação é que,
guiando-se por autocritérios, Joesley participa do enredo da rapinagem no papel
de um anjo cercado de demônios.
As asas angelicais do entrevistado abriram-se com maior
entusiasmo no instante em que ele explicou por que pagava pelo silêncio de
Eduardo Cunha e Lúcio Funaro, que estão atrás das grades. “Virei refém de dois
presidiários. Combinei quando já estava claro que eles seriam presos, no ano
passado. O Eduardo me pediu R$ 5 milhões. Disse que eu devia a ele. Não devia,
mas como ia brigar com ele? Dez dias depois ele foi preso.”
O anjo prosseguiu: “Eu tinha perguntado para ele: ‘Se você for
preso, quem é a pessoa que posso considerar seu mensageiro?’. Ele disse: ‘O
Altair procura vocês. Qualquer outra pessoa não atenda’. Passou um mês,
veio o Altair. Meu Deus, como vou dar esse dinheiro para o cara que está preso?
Aí o Altair disse que a família do Eduardo precisava e que ele estaria solto
logo, logo. E que o dinheiro duraria até março deste ano. Fui pagando, em
dinheiro vivo, ao longo de 2016. E eu sabia que, quando ele não saísse da
cadeia, ia mandar recados.”
Até lá, convém a Joesley não diminuir sua
importância como corruptor no maior esquema de rapinagem sob investigação no
planeta. Do contrário, sua voz soará nos depoimentos e nas entrevistas como
ladainha de uma virgem de Sodoma e Gomorra.
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