Surgiram as primeiras trombadas entre os chefões do centrão e Bolsonaro na definição dos rumos da campanha à reeleição. Envolvem sobretudo pandemia, marquetagem e família.
O presidente se recusa a abandonar a retórica antivacina. E não parece entusiasmado com a perspectiva de incluir na sua estratégia os truques de um especialista em marketing eleitoral. O centrão enxerga Carlos Bolsonaro por trás do biombo. Tenta puxar-lhe o tapete.
Antagonismos fazem parte da
rotina de qualquer comitê de campanha. Mas duas coisas distinguem a encrenca
que se arma ao redor de Bolsonaro: a irascibilidade do candidato e a
institucionalização da prole presidencial.
O primogênito Flávio Bolsonaro
assumiu ares de coordenador de um conciliábulo integrado por Valdemar Costa
Neto (PL) e Ciro Nogueira (PP). Carlos, o filho Zero Dois, corre por fora.
Percorre as redes sociais à procura de encrencas que influem no metabolismo do
pai, atiçando-lhe os maus bofes.
Dono do PL, o partido que
filiou Bolsonaro, Valdemar foi incumbido de recrutar um marqueteiro. Chefe da
Casa Civil, Ciro endossa a ideia de profissionalizar a campanha. Flávio não se
opõe. Mas o irmão Carlos torce o nariz, numa aversão que é compartilhada pelo
pai.
Bolsonaro atribui o triunfo de
2018 ao trabalho realizado na internet por Carluxo, como Carlos é chamado na
intimidade. É improvável que o presidente destitua o filho do comando de sua
máquina eletrônica de moer reputações.
O "trabalho" da
eleição passada, tão enaltecido por Bolsonaro, consistia basicamente em
construir o pedestal do "mito" a partir do emporcalhamento da imagem
de rivais e da demolição do chamado "sistema". Ironicamente, isso incluía
uma artilharia cenográfica contra o centrão.
Hoje, centrão dedica-se a
transformar Bolsonaro num candidato sistêmico. O grupo assumiu o trono ao
filiar o presidente ao PL. Coleciona cabeças em sua sala de troféus. Expurgou
um general do quarto andar do Planalto para assumir a Casa Civil. Levou o Posto
Ipiranga à breca ao controlar o Orçamento federal.
O centrão mede forças com
Carluxo. Primeiro vereador federal da história, o personagem também faz coleção
de cabeças. Abateu, por exemplo, dois ministros palacianos: Gustavo Bebianno, o
advogado que morreu de desgosto; e Carlos Alberto dos Santos Cruz, o general que
se integrou à caravana de Sergio Moro.
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