Ao entrar no Supremo, provavelmente com o pé direito, o novo magistrado Mendonça se converterá automaticamente numa peça-chave da engrenagem eleitoral de Bolsonaro.
Em queda nas pesquisas, Bolsonaro precisa se segurar nas
cercanias dos 25% e torcer pelo estilhaçamento da chamada terceira via para
chegar ao segundo turno. Ao longo deste ano, Bolsonaro perdeu onze pontos
percentual no eleitorado evangélico, que soma 26% da amostra populacional.
Nesse nicho, Bolsonaro ainda prevalece sobre Lula. Mas sua vantagem é de apenas
quatro pontos percentuais: 38% a 34% num cenário; 36% a 32% noutro. Se
Bolsonaro conseguir chegar ao segundo turno, os evangélicos serão novamente um
alvo preferencial da sua pregação.
Casado com o centrão, o presidente perdeu o mote do combate
à corrupção. A inflação, o desemprego e a perspectiva de recessão o
descredenciam para o debate econômico. O desastre sanitário escancara a
inanição do seu discurso. Restarão o novo Bolsa Família de R$ 400 e a pauta
conservadora dos costumes. Bolsonaro pintará Lula como um comunista defensor do
aborto. Vai equiparar a volta do PT ao poder a um Apocalipse. E dirá que
"ter 18% de mim dentro do Supremo" é muito pouco para proteger a
família. Repetirá algo que já vem realçando em cultos evangélicos: o próximo
presidente indicará mais dois ministros para o Supremo. Bolsonaro fará as
contas: "Terei, então, 36% de mim dentro do Supremo" —quatro num colegiado de 11.
Lula já farejou os planos do adversário. Disse que o PT não
pode dar de barato que os evangélicos se comportam "como gado".
Defendeu que seu partido faça soar o bumbo da política social do seu antigo
governo, que que incluía o Bolsa Família, agora capturado por Bolsonaro.
Ironicamente, André Mendonça foi aprovado pela estreita margem de seis votos,
com o apoio de parte da bancada do PT. Na sabatina, declarou: "Na vida a
bíblia, no Supremo a Constituição." Depois de aprovado, cercado de
evangélicos, falou em Deus e religião. Bolsonaro correu às redes sociais, o seu
mundo da lua, para cultuar a si mesmo: "Meu compromisso de levar ao
Supremo um terrivelmente evangélico foi concretizado.".
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