O ingrediente mais notável da atual conjuntura não é a debilidade de Bolsonaro nas pesquisas, e sim a incapacidade dos adversários do presidente de articular a abertura de um processo de impeachment.
O capitão
revelou-se um presidente precário. Com a pilha de mortos por Covid roçando a
marca de 600 mil, ele continua receitando cloroquina e questionando a eficácia
das vacinas.
Num instante em
que brasileiros fazem fila para obter ossos descartados por supermercados,
Bolsonaro desafia a paciência alheia. Afirma que quem compara sua obsessão por
armas com a fome deveria dar "um tiro de feijão" quando tiver a casa
invadida.
Embora Bolsonaro
conspire contra a estabilidade do próprio governo, a hipótese de o impeachment
avançar é pequena, mínima, quase inexistente. Por quatro razões:
1) Falta base
legislativa. A instabilidade política do governo é lucrativa para o centrão,
que controla a chave do cofre na Casa Civil e a distribuição de nacos do Orçamento
na presidência da Câmara;
2) Falta unidade
social. A impopularidade de Bolsonaro bateu em 53%. Mas ele ainda é considerado
um presidente bom ou ótimo por 22% do eleitorado;
3) Falta
articulação com o gabinete da vice-presidência. Quem clama pelo "fora,
Bolsonaro" ainda não se animou a gritar "viva o general Mourão";
4) Falta sinceridade
ao pedaço da oposição mais bem-posto nas sondagens eleitorais. Lula e o PT não
querem derrubar, mas polarizar com Bolsonaro.
Excetuando-se os
devotos do presidente, que aprovam incondicionalmente a sua atuação, os
brasileiros enxergam o governo de duas maneiras. Uma parte avalia que falta
rumo à gestão Bolsonaro. Outra parte acha que o capitão tomou o rumo da crise.
Entretanto, a
menos que um meteoro caia sobre o Planalto, todos terão de se conformar com a
ideia de que Bolsonaro, eleito como solução por 57,8 milhões de brasileiros,
permanecerá no trono até o último dia do mandato —mesmo contra a vontade de
quem enxerga nele um problema.
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