A nova criatura emergiu do nada num instante em que o golpe de 7 de Setembro naufraga, o impeachment retorna às manchetes, o número de mortos da pandemia se aproxima dos 600 mil, os desempregados somam mais de 14 milhões e a inflação acumulada de 12 meses bateu em 9,68%, impondo maiores sacrifícios aos mais pobres.
No
Dia da Independência, Bolsonaro deixou o Alvorada com a disposição de botar
fogo no circo. Riscou fósforos na Esplanada dos Ministérios e na Avenida
Paulista.
Discursando
para multidões de devotos, declarou guerra ao Judiciário; deu um
"ultimato" ao presidente do Supremo Luiz Fux, ordenando que
enquadrasse Moraes, a quem chamou de "canalha"; jurou descumprir
decisões judiciais; desqualificou as urnas; e definiu as eleições de 2022 como
uma "farsa" conduzida por Barroso, o presidente do TSE.
Bolsonaro
desceu dos palanques de 7 de Setembro convencido de que havia produzido uma
demonstração de força. Quarenta e oito horas depois, colecionava evidências de
que vive sua fase de maior fragilidade.
Elevou
o preço do aluguel do apoio do centrão, derrubou a Bolsa de Valores, salgou a
cotação do dólar, foi avisado por Fux de que descumprir ordem judicial é crime
e foi chamado por Barroso de "farsante". Ressuscitou Michel Temer. O
ex-presidente foi içado de uma catacumba paulista e levado a Brasília num
jatinho da FAB, com uma carta conciliatória em punho.
De
repente, Bolsonaro se deu conta de que desfila pelo Planalto o pior tipo de
ilusão que pode acometer um presidente. A ilusão de que preside. Decidiu
colocar sua assinatura na carta de Temer, dando à luz o Bolsotemer.
Prenhe
de humildade, telefonou para Moraes, o ex-canalha, agora "jurista e
professor". Nunca teve intenção de agredir outros Poderes, anota o
documento redentor divulgado pelo Planalto 48 horas depois do surto patriótico.
Os ataques golpistas viraram descuidos pronunciados no "calor do
momento." O Bolsotemer, nova versão moderada de Bolsonaro, é um ser muito
parecido com o Saci-pererê. Só existe em cartas de desesperados e nas florestas
do imaginário popular.
Nenhum comentário:
Postar um comentário