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segunda-feira, 16 de agosto de 2021

Ex-Posto Ipiranga, Guedes virou Comitê Eleitoral

 

É melancólico o ocaso de Paulo Guedes. Tornou-se um ministro neurótico lidando com um presidente psicótico. Operando no modo eleitoral, o titular da Economia constrói um castelo no ar. Candidato à reeleição, Bolsonaro mora nele. E os brasileiros, submetidos aos efeitos da volta da inflação, pagam o aluguel.

A agenda liberal de Guedes virou suco. Em entrevista à Jovem Pan, o ministro atribuiu a liquefação dos seus planos ao ruído eleitoral. "Estávamos andando no caminho certo. Aí começou todo o barulho de dor da luta, a CPI, tentativa de impeachment do presidente, como é o barulho político. Está sendo antecipada a eleição. A eleição, que é para o ano que vem, foi antecipada para este ano.

Ao atribuir a antecipação do calendário eleitoral à CPI da Covid e aos defensores do impeachment, Guedes insinua que seu chefe não tem nada a ver com o fenômeno. Entretanto, sob Bolsonaro nada transformou-se numa palavra que ultrapassa tudo.

"A pressão está muito grande para que, se eu estiver bem, que me candidate à reeleição", disse o presidente em abril de 2019, quando seu governo acabara de fazer aniversário de 100 dias. A campanha eleitoral de 2018 ainda estava fresca na memória dos brasileiros. Nela, Bolsonaro havia jurado ao eleitorado que não disputaria um segundo mandato. Decorridos apenas quatro meses de uma Presidência que se revelou precária desde o início, mudou de ideia.

Barbaridades e cambalhotas Bolsonaro sabia o que estava fazendo, pois reafirmou nesta manifestação de abril de 2019 que a reeleição tem sido "péssima" para o país. Afirmou que os governantes "se endividam, fazem barbaridade, dão cambalhota" para se reeleger.

Mas deixou claro que já não cogitava pegar em lanças pelo fim da reeleição. Alegou que não cabia a ele, mas ao Congresso promover uma reforma que apagasse a reeleição do ordenamento jurídico. Agora, confundindo memória fraca com consciência limpa, Paulo Guedes soou desconexo na conversa com a Jovem Pan: "A democracia brasileira é barulhenta, as instituições são sólidas, são resilientes. Mas os atores às vezes se excedem."

O ministro revela-se capaz de tudo, exceto de enxergar um culpado na fisionomia do seu chefe. Os excessos de Bolsonaro vão do questionamento à lisura das urnas que o elegeram até a ameaça golpista de cancelamento da eleição, passando pelos insultos que resultaram no surgimento de inédita crise com o Judiciário. Guedes ainda não notou. Mas tornou-se um ministro tristemente anedótico.

 

É como se o fracasso lhe subisse à cabeça. Desce ao verbete da enciclopédia como a primeira piada a comandar a pasta da Economia. Há três meses, numa entrevista à Folha, sentou praça no comitê eleitoral do capitão. E passou a executar as "cambalhotas" que Bolsonaro antevia em 2019.

 

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