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sábado, 8 de maio de 2021

Chacina do Rio terá chefe de investigação cuja conclusão o mesmo já dispõe


 Em qualquer lugar do planeta, uma operação destinada a executar 21 mandados de prisão que termina com três detidos e 28 mortos, entre eles um policial, resultaria na queda da cúpula da polícia. No Rio de Janeiro, a chacina é tratada pelo governador Cláudio Castro em nota oficial como uma ação normal, "pautada e orientada por um longo e detalhado trabalho de inteligência e investigação, que demorou dez meses para ser concluído". A manifestação do governador é burra, ofensiva e trágica. O texto injeta escárnio na tragédia da favela do Jacarezinho. 

A burrice do governador poderia ser evitada com uma máquina de calcular. Se a polícia civil do Rio precisava prender 21 pessoas e levou para a cadeia apenas três, a taxa de sucesso da incursão feita no Jacarezinho seria de apenas 14,2%. Considerando-se que o número de pessoas que foram passadas nas armas (28) é superior à quantidade de ordens de prisão, pode-se afirmar que o índice de insucesso da operação foi de mais de 100%. 

O hipotético governador do Rio (ele está no lugar do deposto Witzel) ainda não notou. Mas o banho de sangue do Jacarezinho não é a única anormalidade observada ao seu redor. Chefe do Departamento de Homicídios da polícia civil fluminense, o delegado Roberto Cardoso conduzirá uma investigação sobre o morticínio. Ainda não realizou nenhuma diligência. Mas já dispõe de uma conclusão: "Não houve execução." 

O doutor Cardoso soa categórico: "A prova cabal de que a Polícia Civil não entra para executar e é necessário que haja um revide é o falecimento do nosso policial. [...] No início da incursão, o nosso policial foi alvejado e foi morto. Isso é a prova cabal de que não houve execução e houve, sim, uma necessidade real de um revide a uma injusta agressão”. Hummmmm... 

Repetindo: o delegado Cardoso, responsável por investigar as mortes, reconhece que 24 cadáveres surgiram na favela do Jacarezinho como decorrência da "necessidade real de um revide". Uma reação inevitável diante do fato de que "o nosso policial foi alvejado e foi morto". Quando uma autoridade policial pronuncia algo tão parecido com uma confissão de que o Estado matou por vingança e continua à frente das investigações, é sinal de que o governador não governa a polícia. É governado por ela.

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