O delegado titular da 16ª Delegacia de Polícia Henrique Damasceno disse hoje (8) que o vereador Dr. Jairinho (RJ), expulso nesta quinta-feira do partido Solidariedade, assassinou Henry Borel, de 4 anos, filho da namorada do vereador. Segundo o delegado, a investigação continua, mas já existem provas suficientes para assegurar que a morte do garoto, no dia 8 de março, não foi um acidente, e sim um crime duplamente qualificado com emprego de tortura e sem possibilidade de defesa da vítima.
De acordo
com o delegado, até o momento, não há possibilidade de garantir que a mãe da
criança participou das torturas, mas Damasceno acrescentou que Monique Medeiros
da Costa e Silva foi omissa em não procurar a polícia para relatar uma agressão
ocorrida no dia 12 de fevereiro, dentro do apartamento do casal. Conforme o
delegado, a agressão ficou evidente em troca de mensagens entre Monique e a
babá de Henry, Thayná, recuperadas pela polícia com a utilização do software
israelense Cellebrite Premium.
Monique Medeiros da Costa e Silva, mãe do menino
Henry Borel, deixa à Delegacia de Polícia da Barra da Tijuca(16ªDP), após
prestar depoimento sobre a morte do menido de 4 anos. - Tânia Rêgo/Agência
Brasil
As mensagens
foram fundamentais para determinar a prisão do casal nesta quinta-feira. A
aquisição do software vinha sendo pedida pela polícia há dois anos e foi
autorizada pelo governador em exercício Cláudio Castro durante as
investigações.
Nas
mensagens, que tinham sido apagadas do celular de Monique, a babá informou que
o menino foi trancado no quarto por Dr. Jairinho e naquele momento sofria
agressões. A mãe então pediu para que ela entrasse no quarto, o tirasse de lá e
desse um banho para ele ficar mais calmo. A babá contou ainda que o menino
relatou que levou “uma banda” do padrasto e que pediu para que a sua cabeça não
fosse lavada, porque sentia dor. Henry falou ainda que tinha dores no joelho.
Ameaças
O delegado
descartou a possibilidade de a mãe ter sofrido ameaças para não relatar as
agressões e ressaltou que não faltaram oportunidades para falar das agressões
sofridas pelo menino.
“Com relação
à ameaça, com bastante sinceridade, não é isso que percebi. Ela teve inúmeros
momentos em que poderia ter falado conosco. O depoimento foi bastante longo e
ela se mostrou à vontade em vários pontos dele [depoimento]”, afirmou.
O
comportamento de Monique após a morte do filho chamou atenção de Damasceno.
“Ela conseguiu prestar um depoimento por mais de quatro horas e apresentou uma
versão fantasiosa protegendo o assassino do próprio filho”, ressaltou,
destacando, que com base na legislação brasileira, a denúncia seria uma
obrigação legal da mãe.
“A mãe não
procurou a polícia, não afastou a vítima do agressor, do convívio de uma
criança de 4 anos, filho dela. É bom que se diga que ela tem obrigação legal.
Além disso, quando verificamos depois de uma rotina, esteve em sede policial
por mais de quatro horas protegendo o assassino do próprio filho. Não só se
omitiu, como também concordou”.
O delegado
informou ainda que após o enterro do filho, Monique foi a um salão de beleza
para tratar do cabelo e das unhas. A imagem que o casal tentava passar da
convivência com o menino era de uma família harmoniosa, inclusive induzindo a
polícia para esta versão.
IML
Durante as
investigações foi ouvido um alto executivo da Saúde, com nome não revelado pelo
delegado, que no seu depoimento na 16ª DP revelou ter recebido quatro ligações
de Dr. Jairinho pedindo que o corpo fosse liberado pelo Hospital Barra D'Or,
onde a criança já chegou morta, e não fosse encaminhado para o Instituto Médico
Legal (IML). O executivo, segundo o delegado, negou o pedido, porque constatou
que o menino tinha sido vítima de agressões e, por isso, o corpo precisava ser
levado ao IML.
Descarte de celulares
O casal foi
preso na casa de uma tia do vereador, em Bangu, na zona oeste do Rio de
Janeiro. O endereço não tinha sido informado às autoridades policiais, que
conheciam apenas a localização da casa da mãe de Monique e dos pais de Dr.
Jairinho, onde estavam morando separados nos últimos dias. Esse foi um dos
motivos pelos quais a prisão foi feita nesta quinta-feira. O delegado relatou
que não houve resistência no momento que foram presos, mas o vereador tentou se
livrar de dois celulares que o casal estava usando depois que tiveram
anteriormente a apreensão dos seus aparelhos. Jarinho jogou os celulares pela
janela, mas a polícia recolheu e os encaminhou para perícia.
O promotor
do Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro (MPRJ), titular da 1ª
Promotoria da Zona Sul e Barra, Marcos Kac, disse que as provas continuam sendo
produzidas porque as investigações ainda não terminaram, uma vez que ainda tem
uma série de atos de polícia judiciária e pericial para serem praticados para
que todo o acervo probatório seja encaminhado ao Ministério Público. “Aí sim,
vai valorar a conduta de cada um e imputar o tipo penal violado por cada um dos
atores dessa tragédia”, contou Marcos Kac, esclarecendo o processo para determinar
a punição de cada um no crime.
Para o
diretor do Departamento Geral de Polícia da Capital (DGPC), delegado Antenor
Lopes, para as investigações este foi um caso extremamente sensível e delicado,
que começou com a possibilidade de ser um acidente doméstico, mas que avançou
nas apurações. “Caso difícil porque ocorreu dentro de um apartamento sem
maiores testemunhas e sem câmeras. Era um caso com dificuldade muito grande,
mas a equipe do Dr Henrique evoluiu na investigação e eles começaram a perceber
que algo estava errado. Fomos auxiliados pela perícia técnica, bem como toda a
investigação foi acompanhada pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, com o
Dr Marcos Kac”, completou.
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