A ideia do senador Rodrigo Pacheco e do deputado Arthur Lira era oferecer pela primeira vez uma coordenação nacional da crise sanitária.
Não
conseguiram coordenar nem Bolsonaro, que dirá a pandemia. Entrou em cartaz um
espetáculo novo, que tende a se consolidar como um novo polo de poder na
Capital: a CPI da Covid.
O governo entra na CPI perdendo de goleada. Quando
Randolfe Rodrigues começou a coletar assinaturas para um pedido de investigação
parlamentar, o Planalto imaginou que o senador não alcançaria o número
regimental de 27 apoiadores. Ultrapassou. Avaliou-se que certos senadores não
resistiriam ao assédio do governo para retirar as rubricas do requerimento.
Resistiram. Apostou-se que o Supremo não ousaria arrancar a CPI da gaveta do
presidente do Senado. Arrancou.
Minoritário na CPI, Bolsonaro mastigará nos
próximos meses o pão que o Tinhoso amassou. Utilizando o fermento fornecido
pelo próprio Bolsonaro, a CPI deve documentar o negacionismo sanitário do
presidente. Isso será suficiente para desgastar politicamente o capitão, não
para derrubá-lo. Uma CPI investiga, mas não processa. No limite, pode concluir
que Bolsonaro cometeu, por ação ou omissão, crime comum ou crime de
responsabilidade.
Na hipótese de crime comum, o relatório da CPI iria
para a mesa do Procurador-Geral Augusto Aras, a quem caberia processar o
presidente junto ao STF. Na hipótese de crime de responsabilidade, o caminho
seria um pedido de impeachment, que cairia no colo de Arthur Lira, o chefe da
Câmara.
Ainda que Aras ou Lira decidissem abrir as gavetas,
os processos só avançariam se 342 dos 513 deputados votassem contra Bolsonaro.
Isso dificilmente ocorrerá. Os adversários de Bolsonaro olham para a urna de
2022. E tentam enfraquecê-lo eleitoralmente. Os aliados do presidente olham
para o Diário Oficial. Querem Bolsonaro fraco para arrancar dele mais verbas e
cargos.
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