O centrão marcha sobre o organograma do governo Bolsonaro com rara desenvoltura. Não para de crescer e absorver. Já não se contenta com tudo. Quer mais um pouco. Na semana em que colocou os pés no Planalto, o centrão intensificou a pressão para obter o controle de duas das sete vice-presidências do Banco do Brasil. A prioridade do grupo é a vice-presidência que cuida do agronegócio.
O olho do centrão engordou depois que Fausto
Ribeiro foi nomeado por Bolsonaro nesta semana para substituir André Brandão,
que renunciou à presidência do Banco do Brasil em março. Brandão saiu pela
porta de incêndio porque Bolsonaro o impediu de implantar um programa de
demissão voluntária e fechamento de agências para reduzir custos. A
reestruturação saiu dos trilhos por pressão dos aliados do governo no
Congresso.
Na última quinta-feira, dia em que a nomeação de
Fausto Ribeiro foi formalizada por Bolsonaro, o presidente do Conselho de Administração
do Banco do Brasil, Hélio Magalhães, e um conselheiro, José Guimarães,
renunciaram aos cargos. Outros dois conselheiros estão aborrecidos com a
novidade: Luiz Serafim Spinola Santos e Paulo Roberto Evangelista.
A saída de André Brandão foi vista como uma derrota
para o ministro Paulo Guedes (Economia). Egresso do banco HSBC, ele realizava
uma gestão técnica no Banco do Brasil. Extinguiu duas vice-presidências. Nas
sete que manteve, acomodou funcionários de carreira, sem vínculos políticos.
Sua saída funcionou como uma senha para a fase do liberou geral. Daí o
assanhamento do centrão.
O que leva deputados e senadores a reivindicarem o
controle de poltronas no Banco do Brasil? Você pode acreditar que é por
patriotismo. Mas será assaltado (ops!) por uma dúvida se ouvir um trecho do
depoimento de Paulo Roberto Costa, primeiro delator da Lava Jato.
Funcionário de carreira da Petrobras, o engenheiro
Paulo Roberto tinha currículo e experiência para tornar-se diretor de
Abastecimento da companhia. Mas os requisitos técnicos pesaram menos do que o
apadrinhamento político. O então presidente Lula permitiu que o PP, partido do
atual chefe da Câmara Arthur Lira, se apoderasse da alma de Paulo Roberto. Em
sua delação, Paulinho, como Lula o chamava, resumiu a metamorfose que o
transformou de funcionário exemplar em corrupto confesso: "Eu trabalhei na
Petrobras por 35 anos. Vinte e sete anos do meu trabalho foram trabalhos
técnicos, gerenciais. E eu não tive nenhuma mácula nesses 27 anos.".
Paulinho prosseguiu: "Se houve erro —e houve,
não é?— foi a partir da minha entrada na diretoria por envolvimento com grupos
políticos, que usam a oração de São Francisco, que é dando que se recebe. Eles
dizem muito isso. Então, esse envolvimento político, [...] que tinha em todas
as diretorias da Petrobras, é uma mácula dentro da companhia."
Quer dizer: os apadrinhados dos partidos políticos
devem obediência aos seus padrinhos, não aos contribuintes que lhes pagam o
salário. Eleito com a falsa promessa de banir da administração pública os
métodos do centrão, Bolsonaro, com os pés de barro expostos no caso da
rachadinha, confraterniza com os maus costumes.
Os partidos do centrão e assemelhados já controlam
três ministérios: Cidadania (João Roma), Comunicações (Fábio Faria) e, desde
quarta-feira, a pasta responsável pela coordenação política do Planalto (Flávia
Arruda). No segundo escalão, o grupo beliscou órgãos do porte do FNDE, Fundo
Nacional de Desenvolvimento da Educação) —um cofre de R$ 50 bilhões anuais.
O centrão controla também o Dnocs, Departamento
Nacional de Obras contra a Seca. Beliscou ainda a presidência do Banco do
Nordeste. Agora, força a porta de acesso a duas vice-presidência do Banco do
Brasil.
Nesse ritmo, logo ficará verde o "sinal
amarelo" que o presidente da Câmara, Arthur Lira, disse ter acendido no
discurso em que ameaçou Bolsonaro com o impeachment. O lero-lero segundo o qual
o Congresso dispõe de remédios "amargos" e "fatais" para
lidar com presidentes ineptos é coisa de quem está irritado. E o centrão não
costuma ficar com raiva. Fica com tudo.
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