Reza a Constituição que todos são iguais perante a
lei. Isso é uma lenda. O "injustiçado" e os "presos
provisórios" são parecidos, pois ambos não têm sentença. Mas um está
solto. Os outros, presos. Com bolso para pagar bons advogados, Lula livrou-se
dos veredictos invocando "questões processuais".
Os sem-Supremo, são muito pobres, muito pretos e
muito mal defendidos. Demoram a ser apresentados àquilo que os advogados chamam
de "devido processo legal". Quando personagens como Lula e seus
benfeitores da Odebrecht e da OAS foram parar na cadeia, o país viveu a ilusão
da mudança. Durou pouco. O sentimento era de vidro e se quebrou.
Nesta quinta-feira, o plenário do Supremo reuniu-se
apenas para cumprir tabela. O jogo estava jogado. As sentenças de Lula já haviam
sido anuladas. Faltava definir a jurisdição que administraria a prescrição dos
crimes. Optou-se pela Justiça Federal de Brasília.
A pecha de juiz suspeito também já estava grudada
na biografia de Sergio Moro. Faltava impedir que o plenário anulasse o placar
de 3 a 2 anotado na Segunda Turma da Suprema Corte. Ainda falta colher os votos
de dois dos 11 ministros. Marco Aurélio Mello pediu vista dos autos. Mas a
maioria de 7 votos a favor da suspeição de Moro já foi alcançada.
A despeito da previsibilidade, a sessão terminou
com uma eletrificada discussão entre Luís Roberto Barroso e Gilmar Medes sobre
os métodos utilizados pela Segunda Turma (assista lá no alto). Minutos antes,
Barroso e Ricardo Lewandowski protagonizaram uma toga justa. Trocaram farpas
numa discussão sobre corrupção.
Para Gilmar Mendes, as mensagens permitem concluir
que a Lava Jato é comparável a uma organização criminosa como o PCC. Ricardo
Lewandowski, responsável pela liberação do material roubado para a defesa de
Lula, já declarou que a comunicação eletrônica demonstra que o pajé do PT foi
perseguido por seus algozes com o deliberado propósito de excluir Lula das
urnas eletrônicas de 2018 e abrir caminho para a vitória de Bolsonaro.
Barroso disse ter encontrado no material apenas
"pecadilhos, fragilidades humanas, maledicências." Sem citar nomes,
tachou a reação de "show de hipocrisia", protagonizado por
"gente cuja reputação não resistiria a meia hora de vazamento de suas
conversas privadas.
O centrão agora preside a Câmara, sem
intermediários. Assumiu a coordenação política da Presidência e o cofre das
emendas orçamentárias. Lula se equipa para 2022. Bolsonaro prepara-se para
reforçar a blindagem pessoal e familiar com a indicação de uma segunda toga
para o Supremo. Tudo mudou, exceto a situação dos pretos e pobres, que continuam
recheando as cadeias como "presos provisórios". Não é que o crime não
compensa. A questão é que, no Brasil, quando ele compensa muda de nome. Passa a
se chamar "questão processual".
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