Difícil o Supremo exigir o respeito alheio se alguns ministros não se respeitam uns aos outros. No julgamento em que Sergio Moro foi considerado um juiz suspeito no caso do tríplex por 3 votos a 2, a Segunda Turma da Suprema Corte teve uma toga justa que deu ao ambiente a aparência de um boteco de favela.
Gilmar Mendes ferveu ao ouvir o voto de Kassio
Nunes Marques, que isentou Moro. Investiu contra o colega como se quebrasse uma
garrafa de cerveja na quina de uma mesa de ferro, com os pés em formato de 'X'.
Evocando o estado de origem de Kassio, Gilmar
insinuou que seus argumentos não são aceitáveis "nem aqui nem no
Piauí." Em condições normais, o presidente da sessão pediria calma. Mas
era Gilmar quem comandava a reunião.
"Atrás da técnica de não conhecimento de
habeas corpus, se esconde um covarde", bateu Gilmar. "E Rui [Barbosa]
falava: 'O bom ladrão salvou-se, mas não há salvação para o juiz
covarde'."
O vocábulo covarde tem vários significados. Nenhum
deles é dignificante: Pessoa medrosa, pusilânime, desleal, traiçoeira que foge
de situações de perigo, pusilânime.
De duas, uma: ou Gilmar considerou-se traído ou
achou que Kassio portou-se como um frouxo. Abespinhado, o ministro preferido de
Bolsonaro manuseou panos quentes: "O meu contributo é o silêncio."
Na sequência, Kassio fez pose de cabra da peste: "Quem
me conhece sabe que eu não me inibo por nada e que eu não temo ninguém nesse
plano. Eu sou temente apenas a Deus."
É grande a semelhança com um botequim. Com três
diferenças: 1) há na atmosfera dos botecos uma noção qualquer de honra; 2) os
contendores da birosca não são remunerados com dinheiro público; 3) na mesa de
bar, as brigas acabam na delegacia ou no cemitério.
Considerando-se que o contribuinte paga o custo do
palco, da iluminação, do som, do cafezinho e da TV para transmitir, o mínimo
que pode exigir é sobriedade e respeito. Quem quiser brigar, que se pegue na
rua. Ou num boteco.
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