Em agosto de 2020, a Pfizer havia oferecido ao Ministério da Saúde 70 milhões de doses de sua vacina. O governo Bolsonaro ignorou a oferta. Nessa época, o laboratório já fechava contratos com outros países ao redor do mundo. O mesmo ocorria com a Jansen, da Johnson & Johnson.
Dois meses antes, o governo fechara a compra de 100 milhões de doses da vacina Oxford-AstraZeneca, numa parceria com a Fiocruz. Submetida à inépcia do general Pazuello e ao negacionismo do capitão Bolsonaro, a pasta da Saúde imaginou que poderia negligenciar todas as outras vacinas. Nessa época, a covid havia produzido pouco mais de 100 mil mortos no Brasil. Hoje, o brasileiro morre por falta de vacinas. E os cadáveres são contados em mais de 287 mil.
Em outubro, dois meses depois da oferta da Pfizer, Bolsonaro esnobou também a CoronaVac, vacina importada da China pelo Instituto Butantan, vinculado ao governo de São Paulo. Em encontro com governadores, Pazuello anunciou protocolo e compra de 46 milhões de doses. Mas foi desautorizado por Bolsonaro no dia seguinte. "Um manda, o outro obedece", resignou-se o general.
Em 8 de dezembro de 2020, começaram a correr o mundo as imagens da aplicação das primeiras doses da Pfizer, no Reino Unido. Embora estivesse acossado pelas circunstâncias, Bolsonaro não deu o braço a torcer. Ao contrário. Passou a desqualificar a vacina e o contrato do laboratório.
"Lá na Pfizer, tá bem claro lá no contrato: nós não nos responsabilizamos por qualquer efeito colateral", afirmou Bolsonaro. "Se você virar um jacaré é problema de você, pô. Não vou falar outro bicho porque vou falar besteira aqui, né? Se você virar super homem, se nascer barba em alguma mulher aí, ou algum homem começar a falar fino, eles não têm nada a ver com isso. E o que é pior: mexer no sistema imunológico das pessoas."
A vacina da Pfizer se espalhou pelo mundo. Israel,
Estados Unidos, Canadá. Súbito, foi se achegando do mapa do Brasil. México,
Chile, Costa Rica. Não há vestígio de
vacinado que tenha virado jacaré. Sobreveio o Natal. A pilha de mortos
roçava os 200 mil. Espremido, Bolsonaro deu de ombros: "Ninguém me
pressiona para nada, eu não dou bola para isso."
Nenhum comentário:
Postar um comentário