Vem aí uma nova versão do auxílio emergencial. O agravamento da pandemia e a escassez de vacinas tornou a providência mais do que emergencial, inadiável. A medida não consta da lista de prioridades encaminhada pelo governo ao Congresso.
Mas não se fala em outra coisa no Legislativo. Socorrer os brasileiros pobres virou uma obsessão suprapartidária.
Votarão a favor governistas e oposicionistas. Falta definir o formato, o valor e a abrangência. Paulo Guedes, que torcia o nariz, começa a digerir o novo socorro. Depois de conversar com Arthur Lira e Rodrigo Pacheco, presidentes da Câmara e do Senado, o ministro da Economia falou em reduzir o número de beneficiários para algo em torno de 30 milhões de pessoas. Deseja arrancar a aprovação de medidas que favoreçam o equilíbrio fiscal.
Nos bastidores, os
opositores de Bolsonaro se comportam como se estivessem preparando uma refeição
para o inimigo. Receiam que a volta do auxílio emergencial tonifique a
popularidade do presidente, que está em baixa. O temor da oposição faz lembrar
uma frase de Ulysses Guimarães. O velho pajé do MDB costumava dizer que
"político é como cozinheiro: quem faz o melhor bocado nem sempre o
come." No ano passado, Bolsonaro saboreou a popularidade proporcionada por
um bolo que cresceu graças ao fermento adicionado pelo Congresso.
Paulo Guedes queria que o
auxílio emergencial fosse de R$ 200. Os congressistas puxaram para R$ 500. E
obtiveram R$ 600, reduzidos numa segunda etapa para R$ 300. Agora, além de
servir ao presidente a pose de benfeitor dos pobres, o Congresso terá de
aprovar cortes de gastos, impondo prejuízos a alguém. Essa parte da receita é
mais complicada. Mas depois que se casou com o centrão, o presidente passou a
dispor de aliados que aceitam cozinhar —e até lavar a louça— em troca de cargos
e verbas.

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