Bolsonaro
decerto está preocupado com a ruína fiscal do Estado, agravada pela pandemia.
Em 2019, antes do coronavírus, o
déficit nas contas públicas foi de R$ 95,1 bilhões. Em 2020, o buraco virou uma
cratera histórica: R$ 743,1 bilhões. Ou 10% do PIB. O país está endividado até
a raiz dos cabelos de todos os brasileiros. Inclusive os calvos. É natural que
Bolsonaro, frequentemente tachado de populista, esteja preocupado com a saúde
das contas nacionais.
Antes de decidir sobre a
compra das vacinas, o presidente precisa orçar o valor do apoio legislativo do
centrão. A turma do toma lá, dá cá anda com código de barras na lapela. Há uma
frenética remarcação de preços. Os 63 pedidos de impeachment inflacionaram o
mercado da baixa política. Na disputa pelo comando da Câmara e do Senado, os
votos estão pela hora da morte.
É fúnebre o quadro da pandemia. O
Brasil voltou a amargar uma média diária de mortes acima de mil. Nesta
quinta-feira, os cadáveres da Covid foram contados em 1.439. A pilha de corpos
ultrapassou a marca de 201 mil. A maioria dos brasileiros sonha com a vacina.
Bolsonaro já declarou que não cogita vacinar-se. Mas não abre mão de imunizar o
seu mandato.
O Brasil pós-redemocratização elegeu
cinco presidentes: Collor, FHC, Lula, Dilma e Bolsonaro. Dois foram enviados
para casa antes de concluir o mandato: Collor e Dilma. Uma taxa de mortalidade
de 40% —oito vezes maior do que o índice de letalidade da Covid-19 no Amazonas:
5%. A proliferação de pedidos de impeachment empurra o governo Bolsonaro para o
grupo de risco.
Caindo o capitão, o índice de
mortalidade política dos presidentes brasileiros subiria para 60%. Para evitar
o massacre, os operadores do Planalto percorrem o Congresso sem máscara.
Articulam a eleição do líder do centrão Arthur Lira na Câmara. Para o comando
do Senado, Rodrigo Pacheco, da ala do DEM que valoriza uma
"boquinha".
O centrão e seus congêneres, como se
sabe, não perdem por esperar. Ganham. Na campanha, o centrão foi agredido por
Bolsonaro. Mas não costuma ficar com raiva. Fica com tudo. A blindagem
parlamentar custará caro. Natural, portanto, que o governo retarde a decisão
sobre a compra das doses adicionais de CoronaVac. Antes de comprar a
"vacina chinesa do João
Doria", Bolsonaro quer esmiuçar o preço da imunização do seu
mandato.
O ministro Paulo
Guedes (Economia) deve estar orgulhosos da responsabilidade fiscal
exibida pelo chefe.
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