Após três semanas de estabilidade, Bolsonaro subiu no Ibope de 27% para impressionantes 31% das preferências do eleitorado. Abriu dez pontos de vantagem sobre o vice-líder Haddad, que parou momentaneamente de subir. O desempenho do capitão desafia o prestígio de Lula e, sobretudo a lógica.
Todos os presidenciáveis ajustam seus discursos e suas táticas. Bolsonaro não. Suas (poucas) ideias continuam inabaláveis. Sua pregação não se alterou um milímetro, mesmo depois da facada. Muitos já disseram que a agenda de Bolsonaro é fascista. Houve quem enxergasse nele até pendores hitlerianos. O líder deu de ombros. Manteve-se fidel aos seus valores: o moralismo bisonho, o desprezo pelos signos democráticos, o ódio à imprensa, a segurança imposta manu militari…
O que mudou? Bolsonaro, até ontem um inexpressivo membro do baixo clero da Câmara, sintonizou-se com os brasileiros atropelados pela economia débil e afrontados pela roubalheira vigorosa. Sem estrutura, a bordo de um partido de aluguel, com ridículos 8 segundos no horário eleitoral, ele se impôs perante os velhos tecelões da política artesanal.
Perdendo ou ganhando, Bolsonaro consolida-se como principal fenômeno político desde Fernando Collor. De costas para os partidos, o mercado, a academia e a imprensa, ele capturou os principais focos de contestação social que se movem à margem da liderança populista de Lula e do sindicalismo companheiro da CUT. Parte do tucanato e do centrãozão —versão hipertrofiada do centrão que inclui o MDB de Michel Temer— corre atrás do prejuízo, aderindo às pressas.
Bolsonaro chega à beirada da urna como um líder paradoxal. Deputado há 27 anos, vendeu-se como um oposicionista extraparlamentar, avesso ao sistema. Direitista convicto, conquistou as massas como uma opção “jurássica” ao clepto-distributivismo da chamada esquerda.
Um pedaço do eleitorado ouve o poste de Lula falando num “Brasil feliz de novo” e chega à conclusão de que o futuro era muito mais feliz antigamente.
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