Em entrevista ao apresentador Datena, Bolsonaro deu a entender que falou grosso com Mourão, o número dois de sua chapa. ''Falei, sim, para ele ficar quieto. Afinal de contas, está atrapalhando realmente''. O capitão reproduziu os termos supostamente utilizados no enquadramento: “Daqui para frente, general, com todo respeito, o senhor não fala mais nada.” Não foi a primeira vez que o cabeça de chapa ralhou com seu vice. Não será a última, pois Mourão não consegue conter a língua nos limites geográficos de sua boca.
No penúltimo surto de logorreia, Mourão criticou o décimo-terceiro salário e o abono de férias. Na conversa com Datena, Bolsonaro lamentou: ''O vice geralmente não apita nada, mas atrapalha muito''. Não apita nada?!? Engano. Em condições normais, vices são como ciprestes: só crescem à beira dos túmulos. Mas no Brasil eles costumam desabrochar mesmo sem a emissão do atestado de óbito do titular. Se o presidente é um vivo pouco militante —como Dilma, por exemplo— o vice ajuda a providenciar as flores, a pá de cal e os 342 votos para o impeachment.
Desde a redemocratização, o voto direto elegeu quatro presidentes no Brasil: Collor, FHC, Lula e Dilma. Dois foram enviados para casa mais cedo. Ou seja, a taxa de sucesso do apito é de 50%. Bolsonaro ainda não percebeu, mas a história ensina que, nesta terra de palmeiras e sabiás, um vice pode virar versa a qualquer momento.
O risco aumenta quando o titular do cargo de presidente flerta com a ideia de substituir as regras pela criatividade. Bolsonaro voltou a flertar com a ideia de contestar o resultado das urnas na hipótese de ser derrotado. ''Não posso falar pelos comandantes [militares]. Pelo que vejo nas ruas, não aceito resultado diferente da minha eleição'', declarou. Ora, ora, ora…
Suponha que as urnas de 2018 sorriam para o capitão. Nada impede que o general-vice converta o Jaburu numa trincheira do “autogolpe”, tendo o versa como beneficiário. Quem com Mourão fere com Mourão pode se ferir.
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