O fantasma do centrão ocupa novamente o noticiário. Órfãos de
Eduardo Cunha, os partidos que integram o grupo se reorganizam para assombrar a
sucessão presidencial de 2018. A pretexto de assegurar a “governabilidade”,
equipam-se para impor ao próximo presidente uma espécie de projeto centrão de
poder. Baseia-se na ocupação predatória do Estado.
Na origem, o centrão chamava-se blocão. Foi criado
em fevereiro de 2014 por Eduardo Cunha, então líder do PMDB. Cercou e asfixiou
a gestão de Dilma Rousseff. A estrutura colecionada pelo grupo na engrenagem
governamental deslizou suavemente da administração petista para a gestão de
Michel Temer. Agora, deseja-se sequestrar o próximo presidente antes da
eleição.
Gravitando a esmo ao redor de presidenciáveis que não conseguem
atravessar a fronteira dos dois dígitos nas pesquisas, partidos como PP, PSD,
Solidariedade e PRB ensaiam para junho um movimento de adesão ao candidato de
centro-direita que estiver mais bem-posto nas sondagens eleitorais. Participa
da costura Rodrigo Maia, do DEM, cuja candidatura ao Planalto empolga 1% do
eleitorado.
Nos tempos áureos, o centrão reuniu 12 partidos: PP, PR, PSD, PRB,
PSC, PTB, Solidariedade, PHS, PROS, PSL, PTN e PEN… Isolados, piavam pouco.
Juntos, gritaram muito, ajudando a eleger Eduardo Cunha à presidência da
Câmara. A derrocada de Cunha estimulou a fantasia de que o grupo derreteria.
Mas ele passou a extorquir o governo Temer que, crivado de denúncias, pagou a
fatura.
No DNA do centrão está gravada a expressão “é dando que se
recebe”. Retirada da oração de São Francisco, passou a simbolizar uma prática profana:
a exigência de vantagens, lícitas ou ilícitas, em troca de apoio político no
Legislativo.
No intervalo de 20 anos, o vocábulo ''governabilidade'' ganhou um
sentido gangsterístico.
Virou um outro nome para safadeza, gandaia, corrupção… Serve de álibi para que
políticos invadam os cofres públicos. A anomalia marcou todos os governos desde
a redemocratização. Ganhou escala industrial sob Lula e Dilma.
Nenhum comentário:
Postar um comentário