Michel Temer sabia que seria vaiado. Resignado, evocou Nelson Rodrigues: “No Maracanã, vaia-se até minuto de silêncio.” Estufando o peito como uma segunda barriga, o presidente interino decidiu na primeira hora que iria à cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos. Ao sentir o hálito espesso do estádio lotado, concluiu que o ideal seria conseguir a ausência de corpo.
O protocolo previra a menção do nome do chefe do governo brasileiro nos primeiros momentos da festa. Mas sobreveio a contraordem do Planalto: Shhhhhhhhhhhhhh… Por que cutucar a plateia? Por alguns instantes, o mundo ficou se perguntando quem era aquele senhor de cenho crispado que estava ao lado do presidente do Comitê Olímpico Internacional, Thomas Bach.
Além de Temer, Dilma e Lula foram convidados para a festa. Ambos refugaram. Dilma chegou a lamentar numa entrevista: “Imagine que você vai dar uma festa, que trabalha durante vários anos para esta festa, cria as condições, coloca iluminação, chama a imprensa… E então, no dia da festa, alguém chega, toma o seu lugar e se apropria da festa. Esta é a história dos Jogos.'' Como de hábito, madame escorou-se em autocritérios para se vangloriar.
Dilma sabe que ela, Lula e Temer foram chamados para a festa inaugural da Olimpíada do Rio como tios excêntricos que são convidados para as reuniões de família. Ninguém sabe muito bem como tratá-los. Mas, afinal, são da família. As pessoas são orientadas a não rir de suas esquisitices e a tolerá-los —mesmo que a tolerância lhes conceda uma respeitabilidade que nem todos acham que merecem. Reza-se para que durmam no sofá. Ou finjam ser invisíveis —como Temer no Maracanã.
A ausência forçada de Dilma e Lula e a invisibilidade voluntária de Temer têm múltiplos significados. Constituem um parâmetro e um aviso. Revelam ao mundo que a criatividade brasileira sobrevive ao caos de três crises simultâneas: econômica, política e moral. (Josias de Sousa)
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