Michel
Temer virou um presidente radioativo. Segundo o Datafolha, 86% dos eleitores
jamais votariam num candidato apoiado por ele. Mas o brasileiro pode estar
sendo injusto com Temer. O barulho das bombas que Estados Unidos e aliados
despejaram sobre a Síria abafou a repercussão de uma estrepitosa novidade. Ao
participar da Cúpula das Américas, no Peru, Temer revelou ao mundo algo que
constava da agenda secreta do seu governo.
No encerramento da cúpula, no sábado, Temer subscreveu uma carta
junto com outros chefes de Estado do continente. O documento contém os
compromissos assumidos durante o encontro. O ponto central é o combate à
corrupção. Um fenômeno que “debilita a governabilidade democrática e a confiança
dos cidadãos nas instituições”, realça a carta. Ao discursar, Temer declarou
que “não se pode tolerar a corrupção”. Combatê-la é “um imperativo da
democracia”, disse.
Um observador maldoso poderia afirmar que Temer estava apenas
sendo cínico, pois sua ficha corrida já inclui um par de denúncias criminais no freezer e
dois inquéritos por corrupção na frigideira do Supremo. Mas é preciso
considerar a hipótese de que Temer fosse intolerante à corrupção desde quando
indicou os primeiros apadrinhados para o Porto de Santos, há duas décadas. Isso
faria dele um político revolucionário —do tipo que escancara os crimes de
corrupção cometendo-os.
Agora é possível compreender por que não há inocentes no governo
Temer, só culpados e cúmplices. A escolha dos piores amigos para integrar o
elenco de apoio era parte da agenda sigilosa. Ficou fácil entender por que o
presidente abriu o Jaburu para que Joesley Batista o grampeasse. Só um gestor
destemido demarcaria com tanto zelo seus erros, para que a Procuradoria e a
Polícia Federal os descobrisse.
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